segunda-feira, 1 de agosto de 2011
segunda feira: nove horas, quinze minutos
Macabéa é personagem de A hora da estrela, de Clarice Lispector (1925-1977), romance publicado em 1977. Aos dezenove anos, virgem e sem estudo – cursou apenas até o terceiro ano primário, Macabéa deixou o sertão de Alagoas para tentar ganhar a vida no Rio de Janeiro. Moradora de um quarto na rua do Acre com mais quatro companheiras, trabalha todos os dias até a estafa. Datilógrafa medíocre, copia letra por letra para não errar. Chegou a ser demitida por cometer muitos erros de ortografia e, ao reagir com um pedido de desculpas, comoveu o seu chefe que, por pena e admiração, decidiu mantê-la no emprego. Macabéa vê a vida como uma coisa que apenas é porque é: já que sou, o jeito é ser. Ela não se questiona, sua existência é apenas ser, como um cachorro é cachorro sem o saber. Raquítica, sem vocação, sem sonhos e sem objetivos, acredita mesmo ter sido "soprada" no mundo - como quando um cisco é soprado do olho. Tola, solitária, doce e obediente, alimenta a lembrança de uma infância triste e uma saudade do que poderia ter sido e não foi. Seu único luxo é o cinema uma vez por mês e sua única paixão é "goiabada com queijo". A única fantasia que ela se permite é ser uma estrela de cinema. Gosta de acordar bem cedo aos domingos para ficar mais tempo sem fazer nada. No cais do porto sente o coração apertar ao chamado do navio. Não sabe o motivo, nem isso importa, apenas experimenta um raro momento de conforto em sua vida sem relevo, que só brilhará na hora da morte: seu único momento de verdade, decretado por um carro que a atropela e a transforma em estrela. Finalmente, protagonista de sua própria morte, ela "é": "Hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci." E você, é uma Macabéa?
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